E parafraseando o mesmo, referindo ao nosso Presidente da República, intitulando-o o génio da banalidade, hoje de tudo e de todos se ouviu o pesar, as condolências, a perda de um símbolo de um país. Todos, não. O Sousa Lara continua com a mesma ideia e o Grupo Parlamentar do PSD também resolveu brincar, conforme atesta o blog do 31 da Sarrafada.
E é interessante ver que, apesar das brincadeiras, todos, da direita à esquerda, se mostraram sentidos com a morte do escritor. Eu vou ser muito claro. Saramago não me interessava. Não lia os livros dele, não partilhava muitas das suas ideias, mas era um Prémio Nobel, da área da cultura, e isso ainda me deixa com alguma simpatia pela pessoa.
Agora, nós estamos num país pequenino, e como pequeninos que somos, esquecemo-nos que fomos outrora grandes, e ficamos satisfeitos com pouco. Hoje será um rol de directos e jornalistas e aviões e cerimónias de Estado para "homenagear" um escritor, como ele gostava de ser chamado. Não irá ser respeitada a natural dor de quem estava mais próximo dele, porque o aberrante protocolo de Estado assim o exige. E enquanto não tivermos mais nenhum caso na Selecção em terra de tormenta, Saramago ditará as leis.
E irão os anónimos chorar para a Câmara Municipal de Lisboa, e irão aqueles, que no mais privado dos seus recantos, vocifaram contra ele, e irão todos atrás da matilha, como se ainda houvesse algo mais para dizer no momento macabro de um velório.
Para mim, é mais uma voz que se cala nesta sociedade que ele próprio decidiu abandonar, porque aqueles que hoje o homenagearam, não tiveram a decência de o reconhecer antes de uns suecos. E assim, cumpre-se sempre o nosso triste fado: só conseguimos ser reconhecidos quando morremos, porque não queremos fazer parte dessa espécie que corrói e brutaliza a sociedade.
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