domingo, 6 de junho de 2010

A Escola do sr. Sócrates

Lembro-me perfeitamente como se fosse hoje. Estávamos em 2001, e eu estava a trabalhar num documentário para o Canal Odisseia sobre o Alqueva chamado "Contrastes", que consistia em apresentar as duas facetas do que é que a Barragem iria alterar fisica e socialmente na região.
Havia espaço para todos. Para os que eram a favor e para os que eram contra. E no périplo pela região tive de ir várias vezes à antiga Aldeia da Luz.
Nessa altura, a escola primária existente era uma das que têm aparecido esta semana nas fotografias como sendo as escolas da altura do Salazar. E também havia professores, mais concretamente dois. Que tinham de leccionar para os diferentes quatro anos de escolariedade.
Na altura, no processo de mudança para a nova aldeia, as condições seriam desmesuradamente melhores, porque a EDIA tinha de satisfazer todos os pedidos da Aldeia da Luz. E a escola que seria nova, iria ter menos alunos, porque os que estavam no 4º Ano iriam para Mourão e porque o Alentejo continuava a desertificar-se como tem vindo nos últimos anos.
A dezena de crianças que frequentava a escola estava feliz. Estava perto de casa. Não tinha de fazer os oito quilómetros que as separava da vila mais próxima e com o "centro educativo" (palavra bonita para escola) mais perto.

O problema que se passava em 2001 continua a passar-se em 2010. A Ministra, educadamente, consegue justificar que as vias de comunicação estão melhores, mas gostava que tivesse tido a decência de perguntar às pessoas se estão na disposição de contribuir (elas próprias) para a desertificação do país e para o constante encerramento de escolas, limitando inclusivé a admissão de mais professores para leccionarem o seu trabalho.

O que é criminoso, para o sr. Sócrates, era manter as escolas abertas. Porque custam dinheiro. Os assessores também. E os tachos dos amigos para os cargos públicos também. E já agora, a frota automóvel dos ministérios que de dois em dois anos é renovada. Cortar onde é mais fácil eu também corto. Mas o futuro por si só, já está ameaçado.

Se querem tornar o interior na terra dos senhores de outrora, podiam já ter dito. Escusavam de nos ter dado este espectáculo degradante.

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