Quando tinha de receber várias vezes o Mário Bettencourt Resendes, a imagem que guardava era sempre de uma pessoa bem-disposta, independentemente de ter de lutar contra uma doença que continuava a galgar e a retirar-lhe o espaço público que a nossa televisão, mas sobretudo a nossa comunicação tanto necessitavam.
Nos últimos tempos, a sua luta pessoal era compensada pelas vitórias do seu Benfica, e uma das últimas vezes que o recebi, uma pneumonia tinha-o deixado de rastos, apenas sendo combatida pelo futebol praticado pelo seu clube de sempre e que o tinha alegrado nos últimos tempos.
O seu desaparecimento empobrece a televisão, os jornais, a comunicação que necessitava sempre de ter alguém como ele, selecto, independente e lúcido, como se deve ser em matérias tão delicadas. Nunca escondeu o que era, mas a virtude das suas análises mostrava isso mesmo, e é isso que distingue os verdadeiros profissionais do que os de pacotilha. O Mário parte com o dever cumprido. Da minha parte, só tenho a agradecer os instantes que tive com um dos melhores na sua área.
Na semana anterior, António Feio também nos tinha deixado. O seu pâncreas tinha sido uma mola para as pessoas se lembrarem mais vezes do artista. Do actor. Do encenador. Enfim, da pessoa que sempre tinha sido e da sua profissão que tão honradamente representou. Das tretas, ao cinema, ao teatro, a tudo, o António Feio quis deixar uma marca e conseguiu. E sempre com um sorriso, ou na cara dele, ou na cara dos outros, porque era essa a sua marca.
E várias vezes, ele se lembrou do seu pâncreas e do que ele possibilitou. Os Globos de Ouro, as condecorações, as homenagens. Toda a hipocrisia a que os artistas estão votados em Portugal e que depois são lembrados só quando fecham os olhos ou estão em vias disso. As homenagens são sempre tardias. De certeza que onde estará, estará a fazer rir...
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