segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O Homem do Fato

As pessoas passam por ele com sacos na mão. Muitos sacos na mão. Compras de Natal para uns, lembranças para outros. As pessoas vão andando pelo corredor a olhar para as montras e a entrar nas lojas para ver o que podem comprar ou para simplesmente ver. Ele sente-se inquieto. O fato que veste parece apertado. Apertado demais, porque o calor humano é tanto, que nem sabe como há-de abordar as pessoas. Está especado a ver o que pode fazer, porque a pressão do outro lado também é enorme.

Ele sente-se pressionado. Pressionado para falar. Para prometer este mundo e o outro. Para ter sucesso, mediante o número de pessoas que consegue angariar. Está parado no meio do centro comercial e os sacos e as pessoas e as crianças falam, gritam e andam, sem lhe ligar. Como se ele fosse um artefacto, igual ao de uma barraca de gelados ou a um parque infantil.

Ele toma coragem, dirige-se a mim e pergunta: "Boa tarde, está interessado num novo seguro de automóvel?"

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Catedral de Colónia - Mundial 2006

NIN - The Great Destroyer

Uma questão de opinião

Olho para a página do Público e vejo o banner promocional da opinião no Jornal:

- Correia de Campos todas as segundas-feiras
- Paulo Rangel todas as terças-feiras
- Francisco Assis todas as quintas-feiras
- Manuel Loff quinzenalmente às quintas-feiras

O que está em causa é que nem sei quem escolheram para a quarta e para a sexta-feira, mas olharmos para dois eurodeputados dos partidos do centrão poderem escrever todas as semanas, assim como o ex-líder parlamentar do PS e o historiador associado à CDU escrever quinzenalmente mostra uma certa relutância em discutir com maior intensidade as ideias.

E isso leva-nos a outro nível. Hoje, saltitando de post em post no Facebook, consegui descobrir uma coisa engraçada e que ao mesmo tempo tanto tem de extraordinário, como de preocupante para uma saúde democrática de 37 anos (muito curta, portanto) que um país necessita.

No site do Parlamento, aparece esta iniciativa: Alargamento do prazo de discussão pública do projecto de reorganização curricular, efectuada pelo PCP. Hoje, nada disso foi comentado nos órgãos de comunicação social. Ao invés, lemos isto: BE quer alargar prazo de discussão da reforma curricular.

E por isso, é triste! Triste que não se dê importância (ou pelo menos, a merecida) a quem a merece. Porque os estigmas continuam presentes. Porque o preconceito continua, em pleno 2011.

domingo, 11 de dezembro de 2011

RITUAL DEL HABITUAL



"RITUAL DEL HABITUAL"

António Pires de Lima diz que "devíamos ter menos entre 50 a 100 mil funcionários públicos dentro de três anos", porque é preciso uma reforma do Estado, para cumprir as metas propostas.

O discurso igual ao do Governo e ao simbolismo que tem mostra que o medo continua a ser uma vertente que este país à beira-mar plantado adoptou. Se não cumprirem com o que vem de fora, acabam-se os benefícios, acabam-se as benesses. É assim que funciona, como os "empresários" gostam de dizer, no mundo empresarial. E tornamos tudo o que não é empresarial, empresarial.

"Mas tenho muito respeito pelo trabalho que está a ser feito pelo primeiro-ministro, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e pelo ministro das Finanças. Acho que estão a formar uma troika – um triunvirato, neste caso, para sermos mais lusitanos – que está a dar uma nota completamente diferente da imagem de Portugal lá fora."

Sim, a imagem é completamente diferente. A aplicação dos impostos sobre os mais fracos, o discurso imberbe da poupança quando depois fazem o contrário quando estão no Governo, o clientelismo político-partidário que permite colocar administradores em funções públicas porque têm o cartão do partido. Tudo atitudes de uma nota completamente diferente da imagem de Portugal.

"Esta nova geração de políticos é a única que pode fazer face aos desafios colocados a Portugal"

Qual? Aquela que diz que a RTP-Madeira e RTP-Açores têm de cortar as emissões regionais porque custam dinheiro e a seguir compra viaturas novas de 80 mil euros para se poder deslocar em eventos "oficiais? Ou aquela que diz que tem de se cortar nos subsídios de férias e de Natal, para depois dizer que afinal há excedente? Ou ainda aquela que gastou dinheiro e mais dinheiro num banco que dava para pagar determinada percentagem do tão "afamado" défice? Ou aquela que nomeia especialistas a ganhar 3000 euros por mês e depois considera que 500 Euros é um valor razoável para um salário mínimo? É essa geração?

Também publicado aqui.