segunda-feira, 25 de julho de 2011

Último dia de Fisioterapia

E aproveito para colocar aqui um texto que estava previsto para ser publicado no final de Maio:


"UMA CABEÇA, UM CIFRÃO


A bola vem no ar e o salto é inevitável, quando o jogo está empatado e se necessita de uma vitória. O adversário abaixa-se, saltamos por cima dele e vamos em direcção ao solo. De preferência, com a mão à frente. O som da cartilagem e a dor consequente mostram que temos problema.


Problema porque não há ambulâncias disponíveis para levar ao hospital (do que vale um Centro de Saúde, sem especialistas?) e assim, terei de ir pelo próprio pé para um hospital a 15 kms de distância. (Eu, porque há quem faça 30).


Chegados lá, triagem de Manchester (que é um nome bonito, mas pouco eficaz). Pulseira amarela e a pergunta do costume: 'Vai demorar muito?'. 'Não, é rápido!'. Nunca percebi a noção de rápido de médicos e enfermeiros, mas o "rápido" da enfermeira foi resolvido no espaço de uma hora, numa sala de espera onde se misturam 'pouco urgentes', 'urgentes', 'muito urgentes' (a minha pulseira amarela) e 'emergentes', juntamente com acompanhantes e indiferente da maleita.


Uma hora passou, o braço inchou e a dor aumentou. Próxima paragem: raio-x. O médico tirou, tirou e tirou radiografias, porque a cabeça do rádio não estava famosa. Lá tirou a oitava radiografia e mandou-me para a sala de espera. A pergunta manteve-se: 'Sabe se demora muito?'. 'Por mim, não!', respondeu o médico. uma hora depois, notei que não era por ele, já que não me atendeu, tendo sido outro o mensageiro da notícia: 'Então vamos aqui colocar o gesso e vai andar assim três semanas. Vai tirar um novo raio-x só para tirarmos as dúvidas quanto à lesão.' Vinte minutos depois, mais três radiografias e o reencontro três semanas depois. Hoje. (na altura 31 de Maio).


Entrada no hospital. Parte das consultas externas de um 'Centro Hospitalar' que serve 3 concelhos com quase 400 mil habitantes. Fila para se chegar a um guichet onde dizemos presente e pagamos quase 5 euros de taxa moderadora de um serviço 'tendencionalmente gratuito', conforme está escrito na Lei Fundamental do País, a Constituição. Depois da chamada, ida à Radiologia para o raio-x. 1,80€ depois, duas radiografias e ida às Consultas Externas.


E aqui chegado, o caos instalado. Cerca de 15(??) especialidades distribuídas no mesmo piso, pessoas acotoveladas nas cadeiras dos corredores, enfermeiros aos berros declarando os nomes dos pacientes e uma sala de espera cheia para todas as especialidades.


Uma parte do Serviço Nacional de Saúde é isto. mas é isto, porque há orden para que o caos seja imposto. Só pode! Não há explicação lógica, economicista ou racional que o justifique. O caminho para o fim do SNS está próximo. E os abutres olham com o seu habitual desdém para as pessoas e para o que representam. Neste caso concreto, o cifrão é o objecto escolhido. A saúde deixa de ser um direito e passou quase a obrigação.

Como diz Paulo Portas, o mesmo que diz que defende os idosos, as pensões, a agricultura e afins, é o mesmo que diz que temos de preservar a saúde, porque as pessoas são clientes do serviço. Para bom entendedor, meia palavra basta."

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