quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Deus e o Diabo

Corria o ano de 2000 (bem para os finais de 2000), quando o primeiro jogo como Presidente do SL Benfica para a Taça de Portugal de Manuel Vilarinho se disputava em Campo Maior.

Em dia de jogo, comunicação social incluída, havia o almoço entre direcções, dada neste caso, pela do Campomaiorense, na pessoa de Pedro Morcela, que amigavelmente, nos convidou para almoçar junto da mesa directiva.

Uma mesa para as direcções e outra para as comunicações. No final do almoço, o Comendador Rui Nabeiro junta-se à comunicação, porque estava farto de ouvir falar em futebol, jogadores e transacções. Preferia falar de outros temas com os camaradas da comunicação e a conversa foi parar aos lotes de café com que o Comendador tão bem serve em Portugal e no estrangeiro. Dizia ele que estava à espera de 14 contentores vindos de Angola no dia seguinte, no Porto de Lisboa, para poderem ir para Campo Maior, a fim de serem tratados e comercializados.

É nesta altura que alguém na mesa pergunta a Rui Nabeiro, como é que, derivado à guerra em Angola, o café chegava ao Porto de Luanda e tomava o caminho de Portugal. Rui Nabeiro respondeu da seguinte forma: "Em tempo de guerra, temos de nos dar bem com Deus e com o Diabo!". Foi o suficiente para a mesa perceber o que estava em jogo.

Dez anos depois, Deus continua a mandar em Angola e o Diabo foi morto. Em Portugal, só há um Deus, que por sinal, tem nome de filósofo. Mas é um Deus fraco, que se aproveita das ameaças para se tornar forte, usando os meios para atingir os fins. E neste caso, os meios utilizados são os da comunicação. Ai do Diabo, os pobres jornalistas, opinadores ou figuras que ousem colocar o poder de Deus em vão.

Ele é mortífero, usa a sua teia e o seu controle para que nada escape. Ao menor sinal de ruptura, lá existe uma chamada para um gabinete importante, a dizer que não pode ser. Sua Santidade tem de ser venerado, custe o que custar, doa a quem doer.
E assim, no dia seguinte, a sua agenda repleta de demagogia e caciquismo será acompanhada "ad eternum" até os placards com frases sugestivas e as tendas de cocktail rápido serem desmontados.

Usa a comunicação, segrega-a, tudo está bem quando acaba bem, porque os problemas são resolvidos sempre ao telefone, sem coragem de enfrentar e discutir com quem discorde dele, usando os corredores e a "coscuvilhice" própria de quem não tem coragem de assumir os seus actos.

No Portugal do Séc. XXI, em 2010, ainda há quem tenha os dotes próprios de uma cultura beirã enraizada no ódio pessoal e na picuinhice tão própria que continua a fazer de nós pequeninos, pequeninos, pequeninos...

Ter um Deus assim não é uma benção, mas um sacrilégio. Não há para aí um Diabo como deve de ser?

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